Dia 15 de Outubro de 2012 é a data limite para a apresentação do Orçamento de Estado para 2013 (OE 2013), e neste dia está marcada uma concentração às 18:00 horas em frente a S. Bento para permitir à população exprimir o seu descontentamento relativamente às políticas do Governo e o seu orçamento injusto e catastrófico. Passos Coelho afirma que «Os portugueses deverão esperar um Orçamento que é de dificuldade, que representa um acréscimo muito significativo da carga fiscal para o próximo ano, mas que não deixa de ser um Orçamento mais justo no sentido da divisão equitativa do esforço que é pedido a todos os portugueses…»
Façamos um resumo de algumas das medidas incluídas no Orçamento de Estado de 2013:
- Aumento do IRS, penalizando sobretudo os salários mais baixos. Quem aufere menos de 7000 Euros vai pagar 14,5%, um aumento de 3% para aqueles que ganham menos de 4898 Euros. A estes aumentos será adicionada uma sobrecarga de 4%, ou seja, mais uma medida que vai sobrecarregar os trabalhadores com aumento de impostos, diminuindo o poder de compra e continuando a tendência de empobrecimento.
- Despedimentos colectivos sem precedentes desde o começo da crise, algumas das estimativas rondando os 50 mil funcionários públicos que perderão o emprego, exigindo o OE 2013 o despedimento de 50% dos funcionários com contratos a prazo.
- Mais cortes nas pensões, nomeadamente nas pensões superiores a 1350 Euros, queserão cortadas entre 3,5% e 4%, mais um corte de 16% nas pensões acima de 1800 Euros.
- Subsídios de desemprego e de doença reduzidos em 6% e 5% respectivamente.
- Redução da dedução de IRS relativo a crédito para habitação.
- Continuação da suspensão de subsidio de férias, assim como pagamento do subsidio de Natal divido entre os meses do ano.
O OE 2013 irá igualmente provocar a maior onda de despedimentos colectivos desde o começo da crise económica, promovendo o desemprego, a desigualdade, a exclusão social e o empobrecimento generalizado de Portugal. Mais precisamente no sector público, o governo nega que o número de despedimentos chegará aos 50 mil, sem ser capaz de relevar um número concreto.
A falta de transparência e ausência completa de consultação da população que caracteriza o Orçamento de Estado para 2013 reflete a falta de democracia inerente ao sistema político em Portugal. A cobrança de impostos toca a todos, mas a decisão sobre como estas receitas são gastas fica na mão de uma minoria privilegiada. Uma questão impõe-se: A que ponto é que as receitas do Estado são verdadeiramente ‘públicas’ se a decisão sobre como são gastas não pode ser diretamente influenciada pelo público?
O Resultado Depende do Processo
As medidas do OE 2013 não refletem somente a situação económica do país, assim como a natureza injusta das medidas deste governo. Demonstram que o próprio processo de orçamentação é inerentemente injusto. Porém, existem alternativas para democratizar o processo de orçamentação para fazer com que os orçamentos do futuro sejam mais justos, para assegurar que a população poderá fazer mais do que protestar o conteúdo de um orçamento elaborado sem tomar em conta a opinião da população e sem verdadeira transparência.
A repartição igual de sacrifícios só poderá ser uma realidade quando o processo de orçamentação for profundamente reformado de forma a que seja mais transparente, participativo e democrático. Enquanto a decisão relativa aos gastos e investimentos do Estado permanecerem sob o controlo exclusivo de uma minoria privilegiada não será possível uma repartição igual de sacrifícios, muito menos uma política que sirva verdadeiramente a justiça social e que ajude os sectores mais desprotegidos da sociedade. O Orçamento de Estado de 2013 falha não só por causa dos cortes na saúde, na educação, assim como outras áreas estratégicas sem a qual Portugal, nem nenhum país, poderá realisticamente planear um futuro próspero. Falha igualmente por causa do seu processo antidemocrático e arbitrário, e por sua vez este processo produz um orçamento de Estado que vai aprofundar a crise e o sofrimento da grande maioria da população Portuguesa
Por Orçamentos Locais e Nacionais Verdadeiramente Participativos
Medidas de reforma administrativa que aproximam os governadores dos governados são uma peça fundamental de todos os processos de democratização o qual por sua vez é um processo fundamental no âmbito dos avanços da justiça social. Como menciona Harvey (1973: 97-98), a nossa compreensão de justiça social “deve-se estender para considerar os conflitos sobre a localização do poder e a autoridade para fazer decisões, a distribuição de influência, a concessão de estatuto social, as instituições construídas para regular e controlar atividades… Estamos à procura, para sermos breves, uma especificação de uma distribuição justa através de processos justos”.
Em primeiro lugar, os processos de reforma administrativa têm que aumentar a capacidade que as autoridades possuem para flexibilizar a sua capacidade de diagnosticar problemas e implementar soluções, e isto é necessário sobretudo no contexto urbano onde a realidade social, económica, política e arquitectónica está em constante transformação.
Um segundo critério fulcral é que estas reformas visem incrementalmente inserir a população nos processos de deliberação sobre medidas da esfera pública. Este factor por sua vez não só aumenta a base de decisores, espalhando assim o poder e o risco, diminuindo a capacidade do sector burocrático e tecnocrático de se tornar numa classe autocrática. Também serve como um mecanismo de absorção de contestação popular pois a população tem uma maior tendência para criticar as decisões que são feitas sem o seu contributo, adicionando legitimidade aos governos e agências que aplicam tais reformas democráticas, podendo também ser uma fonte de emprego e desenvolvimento socioeconómico.
Em terceiro lugar, a introdução de mecanismos participativos cultivam a responsabilidade social e fornecem educação cívica aos cidadãos, factor o qual é ainda mais importante no contexto urbano onde a anonimidade, exclusão social e solidão atingem um ponto critico entre as seções da população mais carenciadas.
Em quarto lugar, medidas que democratizam os processos de decisões relativas à utilização de fundos públicos reduzem a corrupção, nomeadamente porque “a prestação de contas do município e a publicação das contas evitam o uso ilícito dos recursos. Essas e outras medidas semelhantes durante a fase de desenho da ‘matriz orçamental’ também evitam o clientelismo e a distribuição de favores, práticas comuns entre alguns vereadores” (Cabannes, 2004: 119).
O Orçamento Participativo (OP) na Europa e em Portugal
Neste sentido, a aplicação de mecanismos de OP tem a capacidade de democratizar as decisões sobre o gasto de fundos públicos, dando mais oportunidade aos cidadãos urbanos pobres de ter um contributo nos processo de decisões que influenciam a construção, gestão e manutenção de infraestruturas e serviços públicos. Aproximar o poder de decisão dos cidadãos urbanos pobres no que toca o desenvolvimento estrutural das áreas onde residem ao introduzir programas de OP equivale a dar mais possibilidades de desenvolvimento às populações das áreas mais carentes das cidades. Porém, os modelos de Orçamento Participativo que são implementados em Portugal são, por enquanto, profundamente desajustados e são mais simbólicos do que outra coisa.
O ‘Orçamento Participativo’ de Lisboa
O ‘Orçamento Participativo’ em Lisboa tem sido recebido com muito entusiasmo pelos seus habitantes. É evidente que a participação tem vindo a aumentar substancialmente. O drástico aumento de projetos e de votantes em 2010 pode-se explicar com a introdução de assembleias presenciais, pelo que o sucesso desta medida é evidente. Foram apresentadas em 2010 927 propostas, contra 533 em 2009, sendo que 429 das propostas de 2010 foram apresentadas em assembleias presenciais (Imagem 3). Nota-se também que o numero de pessoas registadas no site do OP subiu de 5,955 até 11,504, tendo o número quase duplicado.
Em 2009 as propostas para projetos poderiam ter um valor conjunto de execução de um máximo de 5 milhões de euros, valor o qual não foi aumentado em 2010 (Câmara Municipal de Lisboa, 2011). A parcela dedicada ao OP em 2009 representava somente 5.3% das despesas de investimento e 0.78% das despesas totais da Câmara de Lisboa (Madeira, 2010), o que representa uma percentagem muito baixa. O Município de Lisboa, especialmente tendo em conta o aumento substancial de participantes na edição de 2010-2011 e o interesse crescente no sistema de OP que este crescimento demonstra, deveria aumentar esta verba para somas mais substanciais, especialmente dada a participação nas assembleias presenciais assim como a possibilidade de um aumento ainda maior no futuro.
A conclusão inevitável é que o interesse e participação da população no modelo do Orçamento Participativo está a aumentar, sem que o Município de Lisboa aumente as verbas a ele dedicado. As verbas discutidas são por enquanto inferiores a 1% aos gastos totais da Câmara. Ou seja, esta é por enquanto mais uma iniciativa de marketing do que uma verdadeira tentativa de dar o poder de decisão sobre os gastos da Câmara á população de Lisboa.
A população Portuguesa deveria exigir um aumento drástico das verbas discutidas através do modelo de Orçamento Participativo, a extenção do modelo à escala nacional, assim como um aumento das verbas diretamente indexado ao aumento de participação da população. A percentagem das verbas discutiras deveria ser exatamente igual à percentagem da população que participa no processo, de modo a que se toda a população participar, a totalidade das verbas seriam sujeitas a escrutínio público.
Dia 15 de Outubro de S. Bento a concentração em frente a S. Bento será uma oportunidade para projetar a voz da população, dizendo claramente que ‘Este Não é o Nosso Orçamento’.
João Silva Jordão
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